Novo Coronavírus (2)
“Crise e Saúde Mental”
A população brasileira parece ter sido tomada de assalto por notícias sobre o Novo Coronavírus. Tão logo foram retiradas as fantasias do Carnaval, a alegria acabou. Informações sobre as consequências clínicas e econômicas advindas da pandemia, tardiamente reconhecida pela OMS, trouxeram a crise e suas comorbidades até dia a dia do país. E diante de momento tão crítico quanto inesperado, será imperativo que também seja dedicada atenção ao equilíbrio emocional das pessoas, que serão efetivamente afligidas pela doença (Covid-19), e das que não ficarão doentes, ou serão assintomáticas, mas terão vivenciado a mesma realidade disruptiva, e potencialmente danosa para a saúde mental, de qualquer ser humano.
Por mais que exista um hercúleo esforço de coordenação e implantação de ações entre o Ministério da Saúde, as Secretarias de Saúde dos Estados e instituições privadas; integralmente dedicadas ao monitoramento e ao combate à doença, assim como a minimizar a exposição da população às situações de pânico. Ainda existem incertezas e um, justificável, receio sobre o que irá acontecer, em futuro próximo. E diante da imprecisão sobre a evolução da pandemia e dos seus efeitos na sociedade contemporânea, há incógnitas também sobre como esse período inusitado, desestabilizador e inevitável, afetará a estabilidade emocional das pessoas.
Pela perspectiva da Saúde Mental, é possível estimar que a partir de eventos disruptivos dessa magnitude, podem emergir reações emocionais primitivas, associadas ao desamparo e angústia de aniquilação. E em muitos casos, a subjetividade com que cada indivíduo compreende e interage com a realidade – ou expectativa de futura realidade – será capaz de criar fantasias com potencial para ampliar, irrefletidamente, receios, incertezas, inseguranças, perplexidade e angústias. Na prática, essas reações podem ser observadas através de atitudes como compra e estoque excessivo de mantimentos, comportamentos de manada, autoisolamento e até agressividade e violência, em momentos de maior exposição à pressão emocional, por exemplo.
A percepção de não saber o amanhã, ou de não poder confiar em sua razoável previsibilidade, estimula as pessoas a refletir sobre o desconhecido e, ao mesmo tempo, a se deparar com a ansiedade sobre a própria finitude. E se por um lado essa constatação até pode parecer uma mensagem apocalíptica; por outro, ela também serve como alerta sobre a atenção e o modelo de cuidado em saúde emocional que convém praticar, em momentos extremos de incerteza. Partindo da compreensão que o “Ser Humano”, desde o seu nascimento, precisa ser cuidado e amparado. E experimentar sensações de prazer, recompensa e segurança, que são oferecidas pelo entorno e, em ambientes tranquilos, subjetivamente interpretadas como perpétuas ou duradouras. Em períodos adversos, como as crises, saber ao menos identificar e nominar os sentimentos, compreendendo qual a sua origem, permitirá que as pessoas organizem as suas emoções, de modo a não se perderem em fantasias e medos. Na prática, a ação funcionará como o desenvolvimento de “anticorpos” psíquicos, com potencial para auxiliar os indivíduos a enfrentar a adversidade disruptiva, fortalecendo-se progressivamente.
Durante e após a crise e seus desdobramentos junto às sociedades, nesse início dos anos 2020, será através das capacidades individuais e coletivas de adaptação e superação do flagelo: clínico, social, econômico e emocional, que as populações irão desenvolver o que a medicina define como “resiliência”. E esta será incrementada a cada momento em que ações individuais e grupais triviais, forem repensadas e ressignificadas. Aliás, em perspectiva humanista e otimista, é possível imaginar que as necessidades sociais que levarão às mudanças de comportamento e atitude, estarão baseadas em fatores emocionais. E isso porque, assim como a autoestima é desenvolvida a partir de cuidados individuais, a solidariedade e o altruísmo se expandem através do exercício do auxílio ao próximo.
Prof. Dr. José Toufic Thomé.