Pandemia, crise e resiliência.
“Com conhecimento e apoio, as adversidades serão superadas.”
Em muitos momentos, os navegadores do séc. XV enfrentavam calmaria nos oceanos. Ficavam sob sol intenso, cercados por água salgada e diante do horizonte sem fim, ainda desconhecido. Para alguns, a impotência diante da possibilidade de serem os protagonistas em um desastre, conforme a sua subjetividade, experiências e predisposição biológica, foi vivenciada como insuportável e angustiante. Para outros, porém, o revés também assustou e, por vezes, pode tê-los afetado emocionalmente. Mas, a partir do conhecimento que possuíam e da compreensão individual que elaboraram em infortúnios anteriores, conseguiram atribuir um novo significado à situação que os afligia e interpretar essa realidade adversa como prefácio de descobertas e oportunidades. Enfim, a exposição ao mormaço afetava a todos, mas a cada um, de forma diferente.
O período inusitado em que vivemos no último semestre, revelou que mesmo com toda a evolução e conhecimentos compartilhados pela sociedade contemporânea, ainda existirão eventos excepcionais e muito difíceis. Momentos em que os indivíduos ainda estarão expostos à percepção de perigo e aos medos mais primitivos da humanidade, tais como doença, desassistência, desamparo, empobrecimento, solidão e morte, entre outros. E assim como era patente a impossibilidade de acesso imediato à segurança da terra firme, no exemplo da embarcação inerte e isolada, também agora, no Brasil do ano 2020, o retorno ao cotidiano saudável, confortável e previsível, não é alternativa possível em curto prazo.
Nesse momento, é indispensável compartilhar sentimentos, conhecimentos e, para alguns, contar com suporte emocional e buscar, conforme as necessidades individuais de cada “tripulante”, psicoterapias eficientes para superar o período de adversidade.
Nos últimos meses, mesmo à distância e resguardados das interações sociais em consultórios, clínicas e hospitais, diversos especialistas em Saúde Mental, empreenderam um enorme esforço para oferecer apoio psicoterápico à distância, para pessoas sãs vivenciarem os momentos disruptivos da pandemia, prevenindo ou tratando o seu sofrimento, ou adoecimento psíquico. Através das novas tecnologias de comunicação, do conhecimento científico-técnico e, sobretudo, humano, dos psicoterapeutas; a prática da psicoterapia ofereceu ajuda determinante para crianças, homens, mulheres e casais, auxiliando-os na percepção da sua organização emocional, e a ressignificar os seus medos e expectativas, para atravessarem essa “calmaria”, com equilíbrio emocional e a qualidade de vida possível.
Mesmo à distância, por telefone ou “on line”, via aplicativos (condições que sabemos não serem as ideais); o conhecimento, a técnica clínica e as interações personalizadas entre psicoterapeuta e indivíduo assistido, oferecem ferramentas importantes para estimular e desenvolver o equilíbrio e a resiliência em pessoas saudáveis, que estão submetidas ao estresse da realidade atual.
Encontrar e desenvolver o próprio equilíbrio psíquico, é fundamental para que as pessoas superem o medo e as incertezas advindas da pandemia, somadas às alterações sociais provocadas pela necessidade de isolamento e as crises, política e econômica. Nesses cenários, portanto, buscar auxílio junto aos especialistas que ofereçam suporte psicoterápico e, psiquiátrico se necessário, é inteligente, necessário e transformador.
Prof. Dr. José Toufic Thomé.