Preconceito e desinformação…
Mais informação e menos preconceito.
No final de 2017, cenas da telenovela O Outro Lado do Paraíso, mostraram uma personagem sendo submetida à tortura, em uma simulação inverossímil, que a trama apresentou como “tratamento psiquiátrico em hospital especializado”. Diante de tamanho despropósito, exibido em TV aberta para todo o país, as entidades ligadas à Saúde Mental se manifestaram, de imediato, revelando a sua inconformidade com a cena e o consequente desserviço que tal informação equivocada, prestaria à população.
Em carta aberta, direcionada à emissora responsável pela produção televisiva, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), condenou a iniciativa de descaracterização do procedimento médico identificado por Eletroconvulsão Terapêutica (procedimento que não causa dano ou dor ao paciente, e em nenhuma hipótese seria usado como “punição”), e a contribuição dessa exibição incoerente para o aumento do preconceito relacionado às pessoas que sofrem com transtornos mentais. Infelizmente, porém, a Rede Globo se esquivou da responsabilidade, ao afirmar que “as novelas são obras de ficção sem compromisso com a realidade”, e a falha informativa tende a ser esquecida – ao contrário do reforço no preconceito que ela potencializou junto à população.
É ineficaz criticar a postura da Emissora, por mais irresponsável que ela tenha sido. Mas além de reforçar a defesa por responsabilidade e respeito com os pacientes, profissionais e instituições especializadas em psiquiatria – a ABP, aliás, empreende um trabalho excelente para conscientização e combate ao preconceito e estigmatização relacionados às doenças mentais – acho oportuno, chamar a atenção sobre a responsabilidade que temos, quando interagimos na Internet e produzimos, compartilhamos ou somente “curtimos” informações pouco esclarecedoras, aumentamos o destaque sobre assuntos que não conhecemos tecnicamente. Situações em que, por vezes, nos tornamos amplificadores de preconceitos e inverdades.
Assim como errou a Emissora ao simplesmente exibir uma produção fantasiosa que ataca a imagem de um procedimento médico sério, que é desconhecido e temido pela população; também erraram os formadores de opinião em portais, blogs e redes sociais que abordaram o tema, não raro usando termos igualmente equivocados e preconceituosos, como “eletrochoque”, “hospício” e “doida”, entre outros.
O ano que acabamos de iniciar será repleto de disputas entre crenças, ideologias e posições políticas. Informações sobre quase tudo, serão geradas e distribuídas em abundância, e antes de reproduzirmos quaisquer afirmações ou conclusões, será inteligente – e saudável – se buscarmos verificar a sua veracidade, e a qualificação da fonte emissora, para opinar sobre aquele assunto.
Prof. Dr. José Toufic Thomé.